07/02/2014

A 16a Semana ou A humanização do cuidado



Esta semana começamos a olhar as coisas do quartinho do bebê, muito de leve, para ter noção de preços e ideias.
Queremos comprar um guarda-roupas e uma cômoda, ambos de madeira de verdade - e não de MDF, compensados, modulados, essas coisas que duram menos em nossa opinião careta de montar casa. Foi difícil! Fomos em dois grandes showrooms de móveis (aqueles que várias lojas se agrupam e vendem os produtos) e não gostamos de nada. O que é bonito, ou é caro ou não é de madeira, o que é de madeira não é bonito ou não nos dá muita opção. Ficamos decepcionados, mas foi importante para ter noção dos preços e planejar o orçamento.
Eu gostei muito de sair com meu companheiro para ver essas coisas. Damos bem menos valor a decoração do quarto, etc, do que outros casais grávidos, mas poder pensar em algo que faremos para o bebê, como colocaremos os móveis, cores e afins foi muito bom, leve e gostoso. Essas materialidades, apesar de termos grande senso crítico com o consumismo desenfreado, são importantes também para dar lugar ao novo (a) membro da família, para pensarmos como será daqui a alguns meses. Acho que até para comprar um guarda-roupas cabe uma reflexão!!!

Tivemos também nova consulta com a Enfermeira Obstetra, a segunda da gravidez. Eu estava bem ansiosa, positivamente falando. E, claro, foi maravilhosa. Emagreci mais meio quilo, apesar de estar até bem barrigudinha e isto é reflexo de estar comendo bem menos no geral e muito menos porcarias particularmente. Eu realmente achei que as comidas de final de ano teriam me dado um quilinho a mais.
Agora lindo e inesquecível foi o momento em que ela foi tentar ouvir o coração do bebê. Ela nos explica que na 16a. semana o bebê já está com a audição desenvolvida, que é importante conversar com a pessoinha, pro pai sempre se aproximar e falar quando tiver vontade, pois ela já estará ouvindo. E aí ela mede o fundo de útero, nos ensina a diferenciar na barriga o que é útero e o que são os outros órgãos (é incrível, apertando a altura do umbigo, sentimos direitinho algo arredondado, diferente). Aí então ela se aproxima da barriga, tocando devagar e se apresenta ao bebê...chama ele de "amor" e pede desculpas, pois vai tentar ouvir seu coraçãozinho e apalpar e pode incomodá-lo. Nada "tatibitate", bobo não. Uma fala sincera, bonita, de uma profissional que carinhosamente se apresenta. Me emociono só de lembrar. Uma postura tão diferente, sabe? Entendo, em meu âmago, o que é cuidado, o que é acolhimento...

Quando eu fiz residência em saúde da família e mesmo durante o período que fui "só" uma trabalhadora da ponta do Sistema Único de Saúde, algo que sempre discutíamos, em textos, reuniões, congressos, seminários é o que seria acolhimento, cuidado acolhedor, humanização da assistência, como esses conceitos tão lindos nos textos se presentificariam na prática, no posto de saúde, com o usuário que procura o serviço. E nestes menos de 4 meses sendo uma cliente de pré-natal, sei qual é o sentimento de ser cuidada com acolhimento e humanização. E isto é tão, mas tão mais importante do que discutir via de parto, se cirúrgico, se natural, se agendado ou de surpresa.
Sem querer me alongar muito, mas em minha história de vida, já fui por 2 vezes duramente tratada por médicos, oftalmologistas no caso. Por duas vezes, uma aos 9 anos e outra aos 27 anos, médicos falaram pra mim, como se fosse qualquer coisa comum, que eu ficaria cega. Sem nenhum cuidado, de forma ríspida, desdenhosa, mal olhando pra mim. O primeiro ainda o fez em tom de piada. E, detalhe: não eram informações totalmente verdadeiras. Eram carregadas dessas "adivinhações" que alguns médicos amam fazer, do tipo "vai viver só mais 2 anos". Isto marcou muito a minha história, meu jeito desconfiado de receber qualquer diagnóstico...pois as pessoas exageram, erram e até mentem, muitas vezes sem se preocupar como ficará quem está recebendo esta notícia. E, nas duas vezes, eu procurei outro profissional, também médico oftalmologista, que se sentou ao meu lado e me explicou carinhosamente que não era bem assim, que cada um é de um jeito, que eu deveria ficar calma e me cuidar sim, mas sem me preocupar tanto com prognósticos.

Sendo assim, desejo do fundo do coração que todas as pessoas pudessem experimentar esta forma de ser cuidada, com atenção, com sinceridade, disponibilidade e empatia, ainda mais na gestação, momento de tantas inseguranças, medos, expectativas e sentimentos.

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