01/02/2013

Reflexões feministas - Parte II: Saúde Reprodutiva

Não tenho a intenção de abordar neste texto toda a complexidade das muitas questões que envolvem a saúde reprodutiva, mas começo dizendo que pessoalmente acredito que essas divisões são meramente teóricas e tem o objetivo apenas de organizar o imenso campo de estudo que é a saúde humana. Já trabalhei na área da Saúde Mental, Saúde Pública, estudo Saúde Coletiva (qualquer dia podemos falar sobre a leve diferença conceitual entre as duas últimas) e me aventuro a escrever uma dissertação sobre Saúde Reprodutiva.
Muito se falou sobre o assunto das pílulas anticoncepcionais ontem e hoje, por conta da proibição da comercialização de um determinado anticoncepcional de um gigante laboratório, ocorrida na França. Para quem não acompanhou, a proibição ocorreu devido à associação de 4 mortes de mulheres por problemas vasculares ao uso do contraceptivo.
Obviamente quaisquer medicamentos tem seus efeitos colaterais e cabe ao médico, ao prescrevê-los, primeiramente pesar se os benefícios de tal prescrição supera os riscos e, após prescrever, orientar e alertar seu paciente sobre tais riscos, para que este possa decidir se irá ingerir ou não o remédio.
Uma outra questão é o que o surgimento dos contraceptivos significou na vida das mulheres, um grande avanço na direção da liberdade sexual e reprodutiva, creio não precisar me alongar muito nisso.
Entretanto, vejo adolescentes cada vez mais jovens iniciando o uso contínuo da pílula anticoncepcional, como eu mesma, que tomei nos últimos 11 anos ininterruptamente.
Os benefícios são muitos, além de evitar a gravidez, diminui a oleosidade da pele, os desconfortos pré-menstruais, a possibilidade de micro-cistos nos ovários. Mas tem o risco de prejuízo da função hepática e, mais frequentemente, os problemas vasculares. Esse infográfico foi publicado pela Folha de São Paulo e explica bem, fora isso todo mundo que toma anticoncepcional ou conhece alguém que toma vê aquelas micro-varizes, linhas finas roxinhas que se proliferam ano após ano nas pernas (e mesmo em outra partes do corpo). Quem fuma, aumenta muitíssimo o risco de doenças vasculares. Ok, tudo isso está na bula, mas será que estamos realmente assumindo esses riscos a partir de uma reflexão, ou estamos tomando pílula já que todo mundo toma e não precisaremos daquela conversa chata sobre o uso da camisinha feminina ou masculina com nossos parceiros?

Temos que realmente pensar como um efeito contraceptivo que é interessante ao casal prejudica a saúde apenas da mulher. O fato de não querer engravidar se torna muito mais importante do que cuidar da saúde de um integrante da relação. Acho que isso dá o que pensar, como em nossas mínimas práticas a saúde do homem vem sim primeiro do que a saúde da mulher. Além disso, é muito lugar comum culpar a mulher quando a gravidez indesejada acontece "ué, porque não tomava pílula?" ou "foi ela quem esqueceu de tomar a pílula", chegando ao cúmulo de já ter presenciado uma nova regência verbal "ela engravidou-se", como se o ato de engravidar ou de evitar a gravidez fosse responsabilidade apenas da mulher.
Enfim, não tenho a pretensão de esgotar o assunto e sim de provocar a reflexão, muito menos pretendo demonizar o uso dos anticoncepcionais. Mas aposto nas escolhas informadas, pensadas e questionadas e creio que não é isso que vem acontecendo quando logo no início de uma relação uma jovem de 17 anos vai até a farmácia comprar a primeira cartela de anticoncepcional. Em tempo, após quase 12 anos, eu não tomo mais pílula e tal decisão foi fruto de muita reflexão e conversas com meu companheiro, que concordou totalmente e agora participa ele também do ato de evitar filhos.
Pra finalizar, o que todo mundo já devia fazer, tomando ou não a pílula: USEM CAMISINHA!