03/12/2013

Um relato de parto incrível - para espantar o medo (parte II)

Continuando!!!

O Parto
João nasceu dia 9 de março de 2013. Durante o último mês de gestação eu estava trabalhando no turno matutino, mas no dia seguinte (quinta-feira, 7 de março) ao encontro Ishtar sobre imprints pré-natais , estava marcado para eu ir à casa de terapias integrativas do Sofia Feldman, pela manhã. Eu frequentava a casa desde a trigésima quinta semana quando apareceu a insônia e, depois, um travamento na coluna.

Sentada no jardim com a enfermeira Lilia, eu relatava serenamente a recente associação que eu fazia do meu percurso materno com a relação com minha mãe e como sentia que o parto que se aproximava seria um momento importante nesse ciclo.

Cheguei àquele momento da espera que não tinha mais vontade de ler nada sobre o assunto ao mesmo tempo que nada mais me interessava. Não pretendia entrar de licença antes do parto, mas naquela tarde concluí que seria o melhor. Era hora de recolher-me. Ficaria no máximo uma semana a mais no trabalho.

Eu estava na trigésima oitava semana e pensava que João ainda demoraria um pouco para dar o ar da graça, pois não sentia nenhum sinal de que estava por vir e Beatriz, minha filha mais velha, tinha nascido perto das 41 semanas. Mas às 3 horas daquela madrugada (8 de março)senti a primeira contração. Levantei excitada. Perdi o sono. Fui à cozinha, comi algo mais um maracujá para tentar voltar a dormir, pensando ‘se for hoje, preciso poupar forças e descansar enquanto posso’. Consegui deitar e tirar cochilos. As contrações eram espaçadas (não as contei)e para acalmar-me balançava a pélvis, deitada. [A leitura do texto ‘Pariremos con placer’ de Casilda Rodrigañez, foi essencial, despertou-me para uma relação diferente com minha sexualidade e especificamente com meu útero, seu papel no equilíbrio psíquico e corporal e no alívio das tensões. Mais que recomendo a leitura.]

Às 6 da manhã da sexta-feira, 8 de março, meu marido, que dormia no quarto da minha filha com ela, levanta para ir à aula. Comento-lhe das contrações. Ele fica eufórico ao mesmo tempo que tenta se controlar e acreditar que talvez não seja o começo do trabalho de parto. A excitação dele me perturba. Sinto medo que sua adrenalina e ansiedade me atrapalhem (reminiscências da experiência anterior). Digo-lhe que pode ir à aula, pois as contrações ainda são leves e espaçadas e não sabemos se o trabalho de parto vai engrenar. Peço que infle a piscina antes de sair.

Diferente do trabalho de parto anterior em que as contrações se concentravam nas costas, dessa vez se concentram no pé da barriga. Bolsa térmica e a bola de pilates são suficientes para dar alívio. Sento na bola de frente para o computador e abro o Facebook. Não tenho vontade de conversar e graças à rede realmente nem preciso ligar para ninguém, pois estão conectados: Fred, meu colega de trabalho a quem aviso que não irei trabalhar, dizendo que o sulfato ferroso tinha me deixado indisposta e aproveitando para pedir um back up para lhe ajudar na oficina que daríamos na próxima segunda-feira; Polly, minha doula, que me sugeriu deixar a equipe de EOs de sobreaviso e se ofereceu para dar um pulinho aqui na hora do almoço; a EO Miriam que me aconselhou seguir ‘vida normal’ enquanto as contrações estivessem suportáveis; Eliana, amiga de barriga e de busca pelo VBAC a quem contei que estava com algumas contrações, ao que ela respondeu: ‘que emoção’. Eu não estava nem um pouco emocionada. Estava entrando naquele estado de indisposição corporal em que nada de fora importa. Para quem contei, contei, depois não falei com mais ninguém... Aliás, Kenia, amiga de trabalho com quem costumo almoçar, me ligou perto da hora do almoço para saber se eu ia ao trabalho. Atendi, disse que não, e quando ela me disse que tentaria ir ao chá de bênçãos no domingo, eu respondi que não sabia se até lá João já teria nascido.

Comecei, então, a organizar algumas coisinhas em casa, como fazer gelatina e suspender o cortinado da nossa cama. Estava sozinha com minha filha de 2 anos e meio. Durante as contrações, agachava para aliviar a dor. No meio da manhã, ela pediu para mamar novamente. Sentei-a no meu colo, mas durante as contrações queria agachar e quando pedia para ela descer do colo, ela começou a recusar e chorar. Então me dei conta de que não conseguiria tê-la por perto como tinha idealizado no plano de parto. Levei-a, em seguida, à casa da minha mãe, pedindo que ficasse com ela, pois estava com algumas contrações.

Deixei-a lá e voltei para a casa. Consegui tomar água de coco e deitar-me um pouco, usando a bolsa térmica. Voltei para a bola e minha mãe veio me ver. Vocalizava entre as contrações, gutural. E sentia que estava forçando a garganta.

Marcelo me ligou e eu disse que as contrações já estavam bem doloridas. Ele chegou na hora do almoço. Fez um ‘macarrão de doente’ (com um pouco de água, óleo e sal) que consegui comer um pouco. Nas próximas 12 horas só conseguiria comer minicolheradas de gelatina e tomar água.

A essa altura já estava doida que chegasse a Polly. Precisava de um olhar de fora. Cadê ela? Qual seu horário de almoço? Ela deve ter chegado umas 13h. Eu ainda conversava entre as contrações. Perguntei-lhe como deveria respirar, de que forma a vocalização podia ajudar mais. Antes que fosse embora, chamou a Inessa, que me doulou a tarde toda. Marcelo saiu para abastecer a dispensa que estava vazia e quando voltou ocupou-se da logística para encher e aquecer a piscina. Vez ou outra, ele se revezava com a Inessa. Eu me abstraí totalmente de toda a logística necessária para que eu vivesse aquilo ali.

Cada contração era um desafio. Era um caminho que, apesar de avançar, sentia que eu não ganhava know-how. Conto em menos de duas mãos as vezes que lidei de forma tranquila com as contrações, essas foram ou porque vieram suaves ou porque por acertar a soma da respiração, vocalização, posição tive alívio de forma a vivê-las com tranquilidade. Numa mesma contração, eu emitia sons diferentes (ahhhhhhh, uuuuuuu, humm) testando qual deles aliviava aquela contração em específico. Talvez aquela onda me pedia sons diferentes durante o seu movimento até chegar ao pico e começar a ceder. E assim, ela se ia, sem que eu tivesse conquistado a chave para decifrá-la. Se me esquecia de respirar, porém, parecia um cavalo indômito sem rumo. Por isso, me surpreendi muito quando escutei, mais tarde, a Miriam comentando com alguém que eu estava lidando muito bem com as contrações!

Até meados da tarde, tinha dúvidas se daria conta daquele trabalho de parto. Vinha-me o pensamento de entregar os pontos. Temia não dar conta. Putz, precisarei de outra cesárea.Nesse momento da tarde me dei conta de que daria conta de passar pelas contrações. O momento dessa mudança me faz compreender muito bem tantas mulheres que, estando nesse processo, desesperam. Passei, então, a exorcizar o medo, urrando durante as contrações. Estava na cama em quatro apoios, com o tronco sobre uma montanha de travesseiros. Lembro-me da Inessa comentar: ‘essa foi forte, né?’. Não pude responder, mas na verdade, sentia-a igual, eu é que sentia-me mais forte para enfrentá-la.

Enfrentá-la significava resignar-me àquele arrebatamento de dor. Ou talvez o contrário de ser arrebatada, ser chamada à terra. Aliás, durante todo o trabalho de parto sentia muita pressão no ânus e pensava que me faltava evacuar mais vezes, além da que tinha feito pela manhã. A EO Odete falava que podia ser a pressão do bebê. Se tive um fantasma persistente durante o trabalho de parto era esse cocô que eu achava que podia estar emperrando o processo!

Durante a tarde, mudei bastante de posição:
· Sentei na rede e entre as contrações, deitava para trás, apoiada num travesseiro. Era muito confortável e dava para descansar. Mas na hora da contração precisava puxar a rede para inclinar para frente, apertava a rede com as mãos (substituía as apertadas de mãos de outras posições), e precisava receber massagens (como em todas as posições que fiquei). O movimento de ter que levantar as costas me era incômodo porque estava com a pélvis extremamente dolorida (pelo mesmo motivo, não consegui ficar reclinada para trás na piscina, apenas sentada). Também sentia muita pressão embaixo. Sugeri abrir um buraco na rede, como fazem os Tapirapé, mas o rasgo foi aumentando e não me segurava mais (haha, os Tapirapé não cortam a rede, desfazem a trama sob onde se senta).

· Outra posição que gostei muito foi sentar na bola e me dependurar numa cangapresa à grade da janela. Sempre respirando e recebendo massagens na lombar, em todas as posições.

· Também usei bastante o chuveiro, sentada sobre a bola. A água aliviava bastante, mas a localização do ralo me impedia de ficar de costas para receber massagens, sem que eu inundasse o banheiro.

Sentada na rede, vi que a tarde se ia e lembrei que já estava no horário da reunião com a equipe de enfermeiras que atendem parto em casa. Mas elas não costumam ser muito pontuais. Inessa perguntou se queria que ligasse para Miriam. Eu disse que sim. Então, ela volta com a informação de que Miriam já estava no anel rodoviário, que já estava chegando, questão de 40 min. Quarenta minutos! Parecia-me uma eternidade!

Tinha vontade de entrar na piscina, mas tinha dúvida se era um bom momento. Eu achava que quando chegassem, as enfermeiras iam querer fazer uma avaliação do andamento do trabalho de parto, através de um toque. Eu não tinha ideia se meu trabalho de parto ia demorar ou não. Voltei para o chuveiro. Marcelo me disse que a piscina já estava morninha. Fui lá, pus um pé e aquilo era quase gelado para mim. Voltei para o chuveiro. Percebi que intensificavam as estratégias para conseguir aquecer a piscina.

Pelo prontuário, vi que a Miriam chegou às 19h30. Eu tinha acabado de entrar na piscina e não pretendia sair de lá tão cedo. Para meu alívio, ela disse que não fariam exame de toque, a não ser a meu pedido. Acenei com a cabeça, mostrando que tinha entendido.

Por dentro, fiquei pensando se faria ou não. Desde as últimas semanas da gestação, me vinha a curiosidade: será que já tenho alguma dilatação? Naquela altura do tp pensei o que já vinha pensando: se tiver no início da dilatação, vou desesperar; se tiver adiantada, vou achar que não vai demorar, mas tp não é algo linear. Resolvi que a informação mais atrapalharia que ajudaria.

Olhando para trás, aquela piscina era o ambiente que descrevi no prólogo do meu plano de parto (logo abaixo). Eu era aquele mosteiro, cercado de água. Dentro da piscina, fechava os olhos e me esquecia de tudo nos intervalos das contrações. Não me apetecia qualquer conversa trivial, ou mesmo a saudação de quem ia chegando, ao mesmo tempo, tudo era um ruído distante. A água me isolava de tudo, só chegava a ajuda... Quando a contração começava a chegar, reabria os olhos para ter certeza de que não me faltaria uma mão acolhedora para eu apertar e outra para fazer massagem na lombar.

No mundo distante de fora da piscina, Miriam fazia anotações, mexia no celular, colocou músicas do Kundalini Yoga, comentou algo sobre a música e eu assenti com a cabeça. Sua interlocução comigo era suave, com comentários despretensiosos. Durante as contrações soprava meu rosto e aquilo me trazia um alívio, como se me insuflasse o ar.

A essa altura as massagens (apertando as ancas), que no começo da tarde me traziam alívio, já não serviam mais, mas eu era incapaz de explicar isso. Então eu apenas selecionava quem fazia a massagem circular na lombar sem explicar o porquê (no caso Polly e Odete). Por esse motivo berrei, chamando a Odete, enquanto eu retirava bruscamente a mão de outra pessoa.

No final das contrações, tinha vontade de fazer força, como que empurrando para baixo. Mas sentia dor no local da cicatriz da cesárea. Relatei isso a Miriam que me disse com muita tranquilidade ser normal por ser o mesmo local da contração e porque a dor não permanecia aguda no intervalo das contrações. Ao escutar isso, desencanei. Só me acompanhou até o final o fantasma do cocô, haha, que saiu no expulsivo. Depois do parto, comentando com a Miriam de como estava cismada de que meu intestino devia estar emperrando o processo, ela disse: não tem cocô que segure quando o bebê vai nascer!

Continuava dentro da piscina. Miriam perguntou se eu queria fazer xixi e me disse que tem mulher que faz dentro da banheira mesmo. Eu tentei e não consegui. Então tomei coragem para ir ao banheiro (assim aproveitava para tentar evacuar e para esticar as pernas que estavam o tempo todo dobradas na piscina). Sentada no vaso, vejo Beatriz, minha filha, que me oferecia uma amêndoa. Bonitinha! E para agradá-la digo que sim. Então ela me explica que aquela era dela e que ia buscar outra para mim, rsrsrs. Quando ela voltou, eu já não conseguia dar-lhe atenção e nem aceitar a amêndoa para ser gentil.

Do vaso onde deixei só o xixi, entrei no chuveiro. Sentada na bola, durante as contrações, fazia força, pulava na bola, soltava gases e continuava achando que precisava fazer um bom cocô. No intervalo, dormia, deitada com a cabeça no colo da Polly que havia se acomodado dentro do box sob um banquinho. Fiquei aí um bom tempo. E avisei pro Marcelo pra manter a piscina aquecida.

Estava exausta e queria esticar as pernas. Saí do chuveiro e deitei na cama. Fiquei de quatro. Lembro-me da Beatriz ao meu lado. Tinha medo que ela demandasse algo a mim que não estava aguentando nem a mim mesma. Ela não pediu nada. E alguém zelava por ela.

Mesmo sendo desconfortável durante as contrações, deitei-me para descansar. Mais do que nunca precisava de apertar uma mão e de massagens nas costas. Só a Polly estava comigo e pedi que chamasse o Marcelo. Era para fazer massagem. Quando ela se levantou, desesperei. Tinha medo que não voltasse antes da próxima contração. Disse que o gritasse mas que não saísse dali.

Voltei à piscina. Beatriz ainda estava em casa. Isso deve ter feito eu achar que ainda não estava tarde. Pelo prontuário vi que voltei à piscina umas 23h. Em seguida, ela foi embora. Duas horas depois João estaria nascendo.

Marcelo entrou na piscina. Comentou ‘que calor’ e se mexia dentro d’água. Meu baixo ventre estava tão dolorido que aquela pequena vibração da água que batia contra minha barriga era o suficiente para me incomodar. Pedi para que saísse e segurasse minha mão do lado de fora. Realmente aquela piscina tinha se tornado meu espaço vital e sagrado. Sempre que via aquelas cenas de parto com marido segurando a parturiente por trás achava o máximo. Mas minha experiência de uma pessoa que tende tanto à simbiose precisava ser diferente, sentindo bem meus próprios contornos.

Como sentia muita pressão no ânus quando me agachava durante as contrações, sentei-me de lado na piscina e percebi que a pressão diminuía. As contrações mudaram de figura. Já não doíam, apesar de continuar sentindo todo o baixo ventre dolorido.

Comecei a fazer força. Na segunda, senti um ‘ploc’ que parecia a bolsa estourando. Odete perguntou se eu queria colocar o dedo no canal. Pus e senti algo! Fiquei entusiasmada. Pensei: já está baixo! E em seguida, pensei: calma, não quer dizer que está nascendo. Não sei por que, achava que ia demorar ainda. As doulas começaram a arrumar a câmera para filmar e eu que não falava nada soltei: ainda vai demorar, gente. Mas não me fizeram caso, haha. Odete foi chamar a Miriam.

Fazia força e e sentia ardência. Pensei: vai rasgar tudo. Lembrei-me então da enfermeira Jordana (pré-natal) que disse ter pensando o mesmo e não ter tido nenhuma laceração. Então tomei coragem e soltei a força que vinha de dentro. Odete falava ‘devagar’, mas a vontade de fazer força e de ver nascendo me faziam não medir o impulso. Marcelo, que me sustentava pela mão anunciou com entusiasmo, ‘a cabecinha!’.

Deliciosa sensação ‘tatear’ por dentro aquele corpinho passando por mim. Quando saiu o topo da cabeça, eu pensei que fosse a cabeça inteira; quando saiu o ombro, pensei que fosse o tronco, quando passou o tronco, pensei que já tinha saído todo. Quando bateu o pezinho por dentro, levei um susto com aquele peixinho e gritei. Nasceu às 0h54 do dia 9 de março de 2013.

Assim como no nascimento da Beatriz, escutei as lágrimas do Marcelo antes das minhas. Parecia inacreditável: João nasceu. Sentei-me, peguei-o no colo, entregue pela Odete. Tão fofo e tranquilo. Fiquei meio sem jeito para segurá-lo, querendo mantê-lo dentro d’água para aquecê-lo. Mamou. Miriam ajudou com a pega. Já havia esquecido que aquele rostinho pequeno precisava que afastasse um pouco a parte de cima do seio para não tapar-lhe o nariz.

Ao ver que o cordão já não pulsava, preparou-o para ser cortado pelo Marcelo que o fez todo todo, até posando para a foto.

E continuamos ali. Miriam me disse então que já se passara 1 hora. Uma hora! Juro que me pareceu ser 15 minutos. Sugeriu que eu saísse da piscina para o nascimento da placenta e para avaliar o João. Apesar de continuar sentindo cólicas que me faziam balançar as pernas, tinha me esquecido que a história continuava [O nascimento é o fim da história!] e que eu tinha que sair dali em algum momento. Dei um último cheirinho no João antes de entregá-lo a ela. Cheiro i-n-e-s-q-u-e-c-í-v-e-l.

Deitei-me na minha cama. Tive uma pequena laceração no períneo. Odete me avaliou antes da saída da placenta. Pareceu-lhe que não precisava suturar. Passou-se mais uma hora até o nascimento natural na placenta. Aliás, só nasceu depois que João voltou pro meu colinho e mamou novamente. Miriam veio me avaliar e recomendou sutura para uma cicatrização mais rápida, deixando a decisão a minha escolha.

Nesse momento, senti medo que o procedimento fosse dolorido, apesar da anestesia local. Por isso, pedi a minha mãe que segurasse o João e que Marcelo ficasse ao meu lado, segurando minha mão. A sutura, no entanto, foi um momento descontraído entre ‘comadres’. Enquanto a enfermeira costurava os dois pontinhos, conversávamos sobre o que acabara de acontecer, transformando em palavras a experiência daquele nascimento silencioso (tive a visita de dois reis magos que moram no prédio que chegaram lá guiados pela movimentação e urros do expulsivo, de madrugada. Foram recebidos pela janela por algum anjo que estava na sala, mas como João ainda não tinha nascido e esqueceram os presentes, o anjo avisou-lhes que estava tudo bem, mas que ainda não era Jesus, que eles tinham ainda 9 meses para enriquecerem-se com ouro e mirra).

Quando fui levantar para tomar banho, senti que estava fraca. Comi meio sanduíche e tomei água de coco. Polly me acompanhou num banho rápido. Lá comentei com ela: tiro o chapéu para quem vive isso no hospital. Ela me ajudou a vestir-me. Estava ofegante e um pouco tonta com perda de sangue.

Fomos deitar lá pras 6 horas, quando a equipe foi embora. Cochilei 1 hora. As 7h, Odete, que dormia lá em casa, levantou-se para ir para plantão. Eu estava muito eufórica. Fui dormir mesmo só depois do meio-dia.

Ainda falta debruçar-me sobre o que essa história trouxe para minha sexualidade e para a minha individualidade. Cenas dos próximos capítulos.

PLANO DE PARTO – ROBERTA - VBAC DOMOCILIAR
(Texto escrito no encontro 'Cura do não-parto'. O cenário que me veio à mente é do filme “Primavera, verão, outono, inverno e primavera”)
Água. 57% de água. O útero é um local escuro, um lar escuro, à revelia de todas luzes da ciência. Como aquele pequeno mosteiro no meio de um lago, protegido pela água e pela respiração.
Nada nem ninguém chegam a esse lugar protegido de forma invasiva. É preciso se fazer anunciar para ser buscado nas margens. O mistério é escuro e não deve nada a quem se sente ameaçado por ele. Respiração e água protegem e trazem para dentro do lar, lentamente, os convidados.
Os agressivos chegam à margem mas escutam "não" e aprendem a esperar o tempo da paz e a colaborar para que ela seja estabelecida.
Sou água e não há defeito algum na minha imprecisão. Apenas uma intradução. Trago para perto os que ajudam a me lembrar da água e da respiração. Os que ajudam a reencontrar a centralidade e a cuidar do lar e dos que me acompanham. Os que ajudam a me mostrar, a ser-me e a superar-me.
Com a força da terra,
com a leveza da água,
com a inteligência superior da respiração.



Coisa mais linda, né! Para finalizar, o que escrevi para a Roberta, ao ler o relato:
"Querida Roberta,
Seu relato de parto teve um efeito avassalador em mim.
Ainda é difícil colocar em palavras.
Acho que é o primeiro relato que me toca realmente, profundamente, agora que estou grávida.
Li tantos relatos, tantos, antes de engravidar, que agora todos que li já gestando são meio parecidos, me soam sem novidade (sem desmerecer a lindíssima experiência contida em todos eles, por favor!).
Mas o seu não. Te digo por que:
O fantasma da cesariana me assombra. Fantasma esse que nunca me assombrou antes. É minha 1a gestação, não tenho cesárea prévia.
Mas, como você relatou, ao gestarmos atualizamos todos os traumas e tragédias de nossa história. E há muitos anos nenhuma mulher tem seu filho de parto normal em minha família. Esse é o fantasma que se atualiza em mim, agora.
Já sonhei com meu parto, no meu quarto. E esse sonho sempre me tranquilizou, pois o interpreto como uma "visão" do futuro, então sempre soube em mim que, sim, eu vou conseguir parir.
Mas agora, que realmente tem um bebezinho em meu ventre e vou ter que pari-lo em breve, não me sinto tão confiante.
Por isso seu relato foi importantíssimo.
Não mais falarei ou pensarei na possibilidade de não conseguir. Reprogramação mental, já!
Vou trazer pra mim as energias da confiança e da serenidade, inspiradas em seu lindo relato.
Agradeço de coração!
A gente ao escrever não tem dimensão da potência de nossas palavras e nos efeitos que elas produzem no outro. Os efeitos de suas palavras foram extremamente benéficos aqui."

Então é isso, minha gente! Não mais esse papo de medo de cesariana. Eu vou conseguir. Meu bebê nascerá naturalmente, onde e quando decidir, terá uma recepção amorosa, respeitosa, da mesma forma que foi concebido e está sendo gestado. Tudo conspira para isso e nada de deixar o fantasma da desconfiança nos assombrar. Ele foi abolido, espantado pelos ghost busters (alguém aí é dos anos 80???).
Bola pra frente!

2 comentários:

  1. Uau! E além disso vc tem blog? Adorei viu? Um beijo enorme (ps- ja te respondi la na pagina)

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    1. oi querida! Pois é, meu bloguito é escondidinho, mas existe! volte sempre, viu!!!
      beijinhos

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