27/11/2012

Gestando, Nascendo

O mundo não é de chãozinho verde e céu azul como está aqui atrás. Ou melhor, não que eu saiba.
O meu mundo, do Rio de Janeiro governado pelo PMDB, gastando todo o dinheiro público para transformar parte da cidade em um grande ponto turístico (mais do que já é, naturalmente bela), privatizando a saúde pública, encarcerando quem devia cuidar, perseguindo a população de rua, acabando com a cultura popular, jogando spray de pimenta em alguns manifestantes, pagando passagem pra outros...bom, não é mesmo.
Mas o verde e o azul estão lá, de alguma forma. Então, como boa otimista, me atenho a eles para sorrir e apostar na mudança, na informação, na transformação. Novas cores, novos olhares, produzindo nova realidade.
Criei este blog há 3 anos. Precisava escrever minhas coisas, pessoais, dividir. Perdeu o sentido. Mas mantive o nome, engraçadinho, e muitas foram as vezes que tentei retomá-lo e tive vontade de escrever. Outras coisas, outras reflexões. Nunca rolava.
Agora me deparo com um ativismo que me impele a retomá-lo de verdade, definitivamente.
A maternidade ativa, a gestação e parto naturais, as discussões de gênero. Começou como furor informativo de uma leitora voraz. Explico.
Penso em engravidar. Talvez em 1 ano ou dois. Se para ser psicóloga foram tantos livros, artigos, horas-aula, estágio, monitoria, iniciação científica e ainda tantas questões permanecem, para ser mãe, pensei que deveria estudar por pelo menos 2 anos. Comecei a buscar coisas na internet, interrogar a irmã pediatra e neonatologista, buscar artigos. Descobri a tal "blogosfera materna". Blogs incríveis, outros nem tanto, outros prescritivos, normativos. Mas tive acesso a muitos textos e discussões que me transformaram. Mulheres apaixonantes.
E descobri que o mundo (de novo) não é verdinho e azul. Que as mulheres estão perdendo cada vez mais a autonomia sobre seus corpos e o direito de escolha. Estão sendo violentadas, enganadas, iludidas. Que o sistema de saúde do país fez sua escolha por um modelo hospitalar e cirúrgico de nascimento de seus bebês e que isso já é a norma, naturalizou-se. Que isso produz mulheres com medo, que não querem se haver com seus corpos, seus fluidos, suas dores. Que a sociedade do espetáculo atingiu os nascimentos - e o lucro rola solto.
Isso tudo tá aqui, entalado.
Com isso, resolvi dissertar sobre o assunto. Larguei a privatização do SUS que está acontecendo em todo o país, com caso emblemático no Rio de Janeiro e me jogo de corpo e alma no tema da medicalização. Dos nascimentos, dos corpos, da vida. E, como boa otimista, vejo o lindíssimo movimento de desmedicalização que também está aí.
Porque como diz Foucault, todo poder traz consigo a resistência. E a resistência é bonita demais. Na internet, na academia, nas ONGS, nos grupos de discussão de pais e mães. Estou dentro. Faço parte. E este blog também.
Espero que eu consiga ser mais uma sementinha. Mais um chute no conservadorismo.
Venha! Leia-nos e leia os blogs ali do lado também.

6 comentários:

  1. Que bom ver esse blog ativo de novo! E seu ativismo tão importante e cuidadoso! Vamos apostar nas boas mudanças e nos personagens, como você, plantando suas sementinhas! Um beijão, amiga querida! Sou sempre fã das suas escritas!

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  2. Helena
    Sou leitora do Super Duper também e vi o link para seu blog nos comentários do texto mais recente da Anne. Pode ter certeza que você ganhou uma seguidora aqui. Sou estudante da área da saúde (fisioterapia) e super interessada pelo assunto da medicalização do parto. Há tempos já acompanho esta blogosfera materna e mesmo nem pensando em ter filhos ainda, toda esta situação me revolta e me faz ter a maior vontade de sair por aí com placas e megafones gritando sobre esta situação que parece que a maior parte das pessoas não vê. E cada vez mais eu vejo que não estamos sozinhas nesta luta!
    Sucesso, tanto no seu blog quando na sua dissertação!

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  3. Oi Helena, que grande prazer eu tive em reencontrá-la, ao seguir o link que chegou via Google Alerta.
    Espero revê-la em breve e vamos manter contato! Beijos

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    1. oi Ana, tentei mandar email para você, mas só posso responder por aqui! Obrigada pela visita! Me passa seu email para conversarmos, mantermos contato! grande beijo

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  4. OI Helena, que bacana!
    e como está sua tese? esta caminhando? como vc esta fazendo esse estudo? está entrevistando pessoas?
    um beijo, Júlia

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  5. oi Ju, obrigada pela visita!
    Minha dissertação está caminhando, a passos lentos, mas está. Estou estudando os movimentos de humanização do parto, a partir da marcha do parto em casa e agora com a mobilização das doulas. Ainda estou desenvolvendo a parte teórica, mas provavelmente entrevistarei o que chamamos de informantes-chave, pessoas centrais no processo. Vou dar mais notícias sobre o texto aqui.
    beijos

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