Muitos assuntos que gostaria de escrever, mas sem muita iniciativa...até que um cartão da Lu, dizendo que gostava do blog, me animou.
A partir de uma conversa ao telefone ontem, pra variar reflexões sobre a maternidade, comecei a pensar em como está se constituindo a minha maternidade. Sim, é uma experiência única, singular, mas não individual, já que construída por minha relação com tantas mães ao meu redor.
Ainda não sou mãe, digo ainda pois pretendo ser em breve. Mas percebo que minha maternidade começou com minhas primeiras lembranças, que eram de um corredor escuro, quando eu acordava no meio da noite, saía do quarto que dividia com minhas 3 irmãs e ia me deitar com minha mãe, na cama dos meus pais. Essa experiência, de ter sido sempre acolhida no meio da noite, esse aconchegar na cama quentinha, agarradinha com ela, sem nunca ter sido mandada de volta para minha cama, constitui a minha maternidade.
Com 8 anos fui tia, minha irmã teve um bebê e durante um tempo moramos todos juntos. Minha mãe ajudava a cuidar do bebê enquanto minha irmã trabalhava, sem usar mamadeira para não comprometer a amamentação. A inesquecível cena da minha sobrinha, ansiosa, apressada, abrindo os botões da blusa da minha irmã para mamar, seja com 6, 10, 15 ou 20 meses, e mamar ao seio esticando a mãozinha para ser beijada, constitui a minha maternidade.
Em uma festinha de aniversário de um ano da filhinha de uma amiga, conversamos sobre cansaço e a conciliação da vida profissional e a maternidade. Minha amiga comenta que a filha acorda cerca de 3 vezes por noite e ela entende que isso é para estar junto com ela, já que passam todos os dias, de segunda a sábado, separadas enquanto trabalha. Eu insinuo que isso deve ser bem difícil e cansativo, ao que ela, com um imenso sorriso, me diz que adora, pois ela também sente muita falta da filha e se o encontro delas por enquanto é noturno, durante a amamentação, foi o possível e ela aceita. Este sorriso constitui a minha maternidade.
Não são cenas idealizadas, longe de associar maternidade a sacrifício, mas refletem escolhas de determinadas maneiras de se relacionar com o filho, seja bebê ou criança, jeitos de maternar que me são inesquecíveis, e que pretendo seguir.
Acolhimento, afeto, amamentação, encontro, carinho, saudade...palavras que creio serem bem importantes nesta relação mãe-filho, que já experimento como filha e imagino como será do outro lado.
A correria deste moderno jeito de viver coloca estes conceitos à prova o tempo todo, com Super Babás e Desencantadoras de Bebês que pregam a manipulação de seus pais pelos filhos, estimulam o "deixar chorar", o leite artificial, a aparente felicidade da mãe em primeiro lugar. Digo aparente pois não creio que uma mulher ficará feliz ao fechar a porta e deixar seu filho chorando.
Acredito em relações, equilibradas, sinceras e sólidas, encontros bons, que trazem alegria e segurança. Sou contra mentiras, manipulações e adestramentos, em quaisquer relações, principalmente onde um é superior em idade, altura e experiência, como no caso da maternidade.
Longe de ideais cosméticos, com altas doses de realidade e amor, assim venho construindo minha maternidade.